Kung Fu, uma visão mais ampla

 Kung Fu, uma visão mais ampla.

Kung Fu, uma visão mais ampla .Em entrevista com Professor François Jullien em Paris, França para o Projeto “A Bordo do Junco Vermelho”
Na China, se distinguem dois níveis: o primeiro nível é do homem de bem, aquele que faz esforços, um após o outro, e o nível superior é o sábio.
O momento interessante é quando acontece a passagem do homem de bem (fazendo esforços) ao sábio, [já que a pessoa] torna-se [como tal] por si mesma. Isso quer dizer que este é o momento, onde nós investimos (Kung Fu).

Kung Fu, uma visão mais ampla


E do investimento nasce o contrário do esforço que é a facilidade. Na China, dizem o tempo todo que é fácil. Para o sábio é fácil. Assim, a dificuldade transforma-se em facilidade, tal qual é possível pelo gongfu. O Kung Fu , o esforço acumulado, o tempo, se reverte e chega por si mesmo.  A passagem de um para outro é o Kung Fu .

Este mecanismo que faz refletir e não se entende bem como isto se distingue da ação, por exemplo. Você se investe, se dedica, faz esforço dia após dia. Mas deste esforço (dia após dia), sem perceber, um resultado emerge progressivamente, que é o contrário do esforço, o “vem por si mesmo”. É o exemplo do piano: você toca, toca... repete, repete e um dia “ele” vem. Você aprende uma aula a noite [que] é difícil. [Mas], no dia seguinte, você sabe essa lição de cor.

Esta transformação, esta reversão do esforço para o seu contrário (a facilidade), é o esultado despercebido deste investimento do gongfu. Ele investe e o investimento produz sem perceber um fruto, sem que você saiba como se passou da dificuldade para a facilidade.
No investimento que se faz, algo progressivamente amadureceu, [que é] o contrário da dificuldade, e que faz com que ele venha por si mesmo. Chama-se a “ imanência”. Chega naturalmente sem pensar.

Acho isto interessante porque nós não temos o equivalente no pensamento europeu, onde não foi analisado como do investimento e do esforço pode nascer o contrário.
Mesmo vendo que isso acontece ao aprender a tocar piano ou dirigir. Se faz esforço e um dia chega espontaneamente. Tenho o conforto, a facilidade e isto é o resultado do Kung Fu.

Nas artes marciais, isto é muito importante. É a mesma noção básica. Ao mesmo tempo, é
preciso aprender as sequências de movimentos, repeti-los, etc. Sem perceber que desta repetição cansativa, alguma coisa progressivamente emerge, fazendo que progressivamente tenhamos facilidade. Isto chega naturalmente sem pensar. Esta inversão que acho interessante como sendo o resultado do Kung Fu  o investimento paciente.

Então eu traduziria por “investimento paciente de onde resulta e amadurece a facilidade”. [Gostaria de] relacionar o Kung Fu com [ a noção de “justo] meio”. Como o “meio” não é o termo intermediário, a meio caminho entre dois extremos. 

Então é somente pelo investimento interior paciente que posso progressivamente entender qual é este equilíbrio de movimento. Porque não há regra. Eu oponho o que é regra (imóvel) ao que é, do lado chinês, a regulação, a transformação. Para aprender a regulação do combate, você não pode aprendê-la como se fosse uma regra. 

É preciso aprendê-la pelo investimento paciente, pelo Kung Fu e é [progressivamente que] de seu investimento, de sua dedicação na situação, você pode progressivamente adquirir este sentido da regulação que chega espontaneamente, naturalmente. Tem então alguma coisa que devemos educar em nós mesmos pelo investimento, pelo Kung Fu. É preciso educar para que progressivamente o sentido da regulação nos chegue espontaneamente.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Arte marcial do programa SuperFight na cidade de Brasilia.

Patriarca Moy Yat, uma noção sobre Kung Fu

Kung Fu e a arte de Viver